quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Beijo de Morte - Por Denny Guinevere Du Coudray


Pela vidraça da janela podia-se notar a figura de uma criatura tão humana e frágil sentada na cama imersa em pensamentos, perdida em lembranças.
A jovem levantou-se ficando de frente ao espelho, estava despida e permaneceu um tempo admirando as curvas bem torneadas de seu próprio corpo. Não passou despercebido por ela duas lágrimas que rolavam involuntariamente sobre sua face.


O dia começava a findar no horizonte distante. Os preparativos de acabamento estavam em pleno caminhamento para a noite mais esperada do ano em um dos salão mais divulgados e procurados da região, os preparativos estavam por acabar. O tal evento começaria em três horas e os organizadores acertavam os últimos detalhes acelerando a terminação de seu trabalho exaustivo, mas gratificante.
Esta não era uma noite comum, uma presença importante compareceria dentre os convidados.
Faltando uma hora para começar o evento, o Lord Agnosth cruzou os portões que levavam a pista de dança e cumprimentou o dono do local com um aceno vago. O Lord desceu as escadas e direcionou-se ao balcão pedindo uma dose de absinto, que sorveu em um gole somente sorrindo com satisfação.


Na estação de trem, Polyana aguardava ansiosamente a chegada de sua nova amiga. Há dois dias vinham se comunicando por internet e telefone. Sara era prima do Lord Agnosth e Polyana teve que convence-la a ir ao Teatro dos Vampiros junto com ela.
Quando esta chegou por fim, Polyana sorriu não escondendo seu contentamento ao beijar-lhe a face carinhosamente.
__ Temia que não viesse Sara.
__ Não viria se não fosse por você, estou meio doente e queria repousar em minha casa, mas você foi tão gentil que sabia que não poderia deixá-la sozinha. Está ansiosa para conhecer meu primo?
Polyana balançou a cabeça negativamente, algo no Lord a deixava agoniada. Queria conhecê-lo, porém tinha um certo receio. Não podia demonstrar suas fraquezas para Sara. Seria injusto com ela mesma.
__ Nem tanto. Pensei que estaria bem mais ansiosa.
Sara deu uma gostosa gargalhada, sabia que ela estava mentindo. Foram conversando alegremente até o local, a fila estava enorme devido à presença do Lord naquela noite. Polyana não escondia sua agonia e demonstrava nos olhos lacrimejados e nas mãos tensas que não paravam de mexer em qualquer coisa em seu alcance.
As duas amigas atravessaram o salão escuro e sombrio, Polyana desceu as escadas com dificuldade por não ter se adaptado ao ambiente. Quando ela ergueu os olhos e avistou de longe o Lord ela emudeceu. O rapaz tinha 1,85. Cabelos negros e compridos chegando aos ombros, ele usava uma cartola elegante e uma roupa a caráter de sua fama. Polyana sentiu o coração acelerar numa agonia constante, ele era completamente perfeito.
__ Você esta bem querida?
__ Sara, não vou conseguir. E se ele não gostar de mim?
__ Calma anjo. Você esta comigo, ele a receberá como uma conhecida. Não tem que se preocupar.
Após falar aquilo, Sara pegou nas mãos da amiga e forçou-a a segui-la. Ela relutava, mas Sara era insistente e puxou-a com mais força. Quando se depararam defronte com o Lord, Sara cumprimentou-o com carinho, ser prima do Lord dava uma grande satisfação a ela por ter sempre a atenção dele para si.
__ Quero que conheça minha amiga Agnosth, Polyana.
__ Muito prazer minha jovem.
O Lord levou as mãos dela aos lábios beijando-lhe de forma cordial e charmosa, Polyana lutava contra os sentimentos e demônios que temiam em fugir como cavalos selvagens.
Ela esforçou-se ao máximo para não dar importância ao Lord que a observava como um animal faminto pronto a atacar sua presa, ela sabia que ele era diferente, porém ignorava o fato dele ser um vampiro de verdade.

No decorrer dos momentos prazerosos entre os convidados que bebiam e conversavam alegremente, Polyana notou o Lord contemplando-a. Ele que estava encostado no balcão levantou-se e foi até ela, pegou-a pela cintura e beijou-lhe a boca. Os lábios do Lord percorreram os ombros da jovem que gemia ao seu toque ignorando as pessoas à volta que fingiam não notar a reação dos dois.

Os dentes afiados do Lord rasgaram seus lábios sem que ela notasse o ocorrido, ele lambia com satisfação o líquido rubro que permanecia nos lábios da dela.
“Cruel e perverso! Este é o homem que esta contigo neste momento, Cuidado ele é perigoso” – pensava ela em determinado momento. Mas as mãos fortes dele e o beijo ardente eram mais convincentes do que seu subconsciente que se manifestava mais uma vez para atormenta-la tentando tirar-lhe o prazer de estar nos braços de Agnosth.

O Lord a conduziu até a pista de dança. Polyana parecia enfeitiçada ao seu comando.Começaram a se mover lentamente, o Vampiro a conduzia no ritmo da música e ela de olhos fechado deixava-se conduzir. O vampiro afastou os cabelos do pescoço dela enquanto ela se contorcia de tesão ao toque dele em sua pele alva.

O vampiro beijou o pescoço movendo suas mãos frias em seu corpo saciando sua sede carnal. Ele mordeu-lhe a região do pescoço e sentiu o sangue rubro em sua boca, entregue ao amante Polyana não se assustou com o acontecimento. Ela sabia o que viria depois disso.

Agnosth olhou-a com certa amargura, soltou a moça antes que ela ficasse fraca e não pudesse recompor a saúde que estava se esvaindo. De certa forma ele não conseguia matar a humana como fizera outras vezes.
__ Porque não termina o que começou Lord? – dizia ela em prantos.
__ Não consigo. Tem algo em você que me retrai.
__ É o amor que sinto por você.

O Lord afastou-se dela e foi embora. Aquela menina imprudente não sabia o que havia dito, amar um ser cruel. Era possível? Com certeza ela não sabia onde estava se metendo, dessa vez não a matou, mas se viesse a encontra-la terminaria o serviço. Mesmo ela tendo algum significado em seu coração para ele desde o momento em que beijou a boca macia e sedenta da jovem humana.


Polyana chorava compulsivamente fazia dois anos que amava o Lord Agnosth com certa ternura, sabia que ele era cruel e maldoso, não fora feito para ser amado. Em lágrimas e sussurros ela disse como que para justificar a dor que ele causava involuntariamente.
__ Eu o amo e nunca deixarei de amar. Mesmo você não merecendo este amor entrego para você. Um dia nos encontraremos Lord, e neste dia serei boa o suficiente para saciar sua sede acabando com meu sofrimento de uma vez.


Ao ouvir estas palavras o Lord afastou-se da janela de seu quarto, fazia algum tempo que ele vinha toda noite espiá-la pela janela enquanto ela se lamentava pelo sentimento que nutria em suas veias.
Um Sorriso formou-se nos lábios dele, por certo esta garota havia mexido com seus pensamentos, e um amor impossível nascia entre ambos. Sofreria calado, não podia dar o luxo de amar uma humana, Polyana nunca iria descobrir seu amor fraco e involuntário por ela, iria esquecer nem se fosse preciso tirar-lhe a vida matando-a cruelmente.


(Homenagem á duas pessoas que sempre estiveram em minha vida).

4 comentários:

Adriano Siqueira disse...

Sabe o que aprecio nos contos de vampiros.
são as ligações com os humanos que mesmo sendo impossivel nos traz boas histórias.
Vendo que a natureza o amor impossivel é chamado de amor duradouro e eterno. Digo que neste texto vejo uma aliança que compartilharão pela eternidade. Quem sabe um dia o este lord verá pela janela que aquela mulher merece uma chance.

Obrigado denny pelo texto e pela criativade.

Dri

Camila Bernardini disse...

o amor sempre acaba nos matando aospoucos

Denny Guinevere disse...

Obrigada Dri por suas palavras que sempre me incentivam a prosseguir. Agradeço o carinho por meus contos e sua afinidade para comigo...

Beijos Denny


Camila!

Falou pouco mas conseguiu extrair de mim o que quis dizer neste maravilhoso conto. Fico feliz que tenha apreciado este história Maravilhosa que guarda um segrendo.

Beijos... Denny

Poliana de Pinho disse...

Conto perfeito Denny, muito bonito, muito sóbrio... Gostei muito da delicadeza do seu conto, de como é perspicaz...
Parabéns.