"Ela é benção
Ela está viciada nele
Ela é a raiz da conexão e
Ela está conectada comigo
Aqui eu vou e eu não sei porque
Eu viro tão incessantemente
Poderia ser que ele está me assumindo
Eu estou dançando descalço
Indo a um giro
Alguma música estranha me arrasta por dentro
Faz-me sentir como algum tipo de heroína..."
(Dancing Barefoot)
Julia havia acabado de chegar em Wilmont. Logo que chegou já demonstrou seu desagrado, não gostava do clima nem do fato da cidade ser isolada.
Sua irmã, Katherine, parecia mais animada e por diversas vezes tentou animá-la, mas ela parecia não se importar em ceder.
Julia era uma garota com seus dezessete anos, do gênio difícil e uma personalidade forte. Apesar de muito inteligente, se deixava levar pela raiva e diversas vezes perdia a razão.
Estatura mediana, branca, cabelos ondulados tingidos de vermelho, Julia se destacava por sua beleza, mas não gostava quando isso ocorria.
Não se deixava enganar pro certas manias que toda garota de sua idade tem, era muito centrada e persuasiva.
Também não se deixava levar por caprichos e tampouco ia á festas típicas de adolescentes, ela preferia isolar-se, sempre fora assim, mas dessa vez algo dizia que Wilmont não era seu lugar.
Ela nada sabia sobre a cidade, mas sentia que não deveria se aproximar dali.
*****
Julia, seus pais e sua irmã estavam á caminho de Wilmont. Dentro do carro, seu pai falava em como seria bom que as meninas crescessem em uma cidade como Wilmont, sua mãe parecia muito feliz e tentava disfarçar o sorriso quando Julia a encarava com raiva.
- Vamos querida, você sempre gostou de se isolar não sei porque não aceita a idéia de nos mudarmos para cá. - Disse o pai a olhando pelo retrovisor.
- Julia, você poderia facilitar as coisas, nem amigos você tem direito, não pode falar que vai sentir saudade de alguém. - Disse a irmã que estava sentada ao seu lado.
- Não é isso! - Julia exclamou. - Só não estou me sentindo bem.
- Tomara que melhore filha, ouvi falar dessa cidade, parece ser muito bonita. - Disse a mãe dando um sorriso.
- Pelo menos a estrada é. - Retrucou seu pai.
Eles não demoraram muito para chegarem á cidade. A noite caía como uma mortalha sobre Wilmont.
Logo estavam apreciando as luzes amarelas do centro e em média de quinze minutos chegaram á casa que haviam alugado.
- Nossa, é linda. - Disse Katherine assim que desceu do carro.
- Muito, querida. - Respondeu seu pai.
Julia seguiu na frente com sua mãe enquanto seu pai e sua irmã tiravam as malas do carro. Ao entrar na casa, Julia sentiu como se já conhecesse o lugar. Ao contrário de sua mãe, que andou pelos cômodos afim de conhecer melhor os mesmos, Julia subiu a escada que ficava na sala e foi direto para o que seria, em breve, o seu quarto.
Na manhã seguinte Julia acordou desanimada, não importava o quão cansativa fora a viagem, ela e sua irmã teriam que ir para escola.
Julia já estava acostumada com sua rotina entediante, já estava no terceiro ano e sabia que nada mudaria. Arrumou-se e saiu de casa sozinha á procura da escola. Andou pelas ruas, olhava para cada pessoa que passava por ela, até que chegou ao colégio.
- Ainda bem que é perto. - Falou para si mesma. Muitas pessoas entravam e saíam, o que a deixou desanimada demais, detestava o fato de ter que se relacionar com outras pessoas.
Entrou pelo estacionamento e seguiu em direção ao prédio principal.
- Isso aqui mais parece uma faculdade. - Disse para si mesma novamente e se assustou pelo fato de estar falando sozinha.
O tédio havia tomado conta de toda sua manhã, ela não via a hora de voltar pra casa. Estava sentada na sala assistindo sua última aula e mal podia se concentrar no que o professor falava.
Ficou surpresa quando notou que até aquele momento, nenhum aluno havia se aproximado dela, ninguém havia puxado assunto e nem sequer haviam a reparado.
Ela olhava os colegas de classe com certa indignação.
"Nem parecem humanos, mas ainda bem que não vieram me perturbar, esse colégio não é tão ruim assim". - Pensava.
Assim que a aula acabou ela se levantou e foi em direção ao pátio que ficava em frente ao prédio aonde estava. Parou e fitou as pessoas sentadas no gramado e alguns meninos que jogavam bola na quadra.
Estava distraída quando alguém esbarrou nela a fazendo virar institivamente. Quando olhou para o lado viu que se tratava de uma garota. Ao contrário do que ela imaginou, a menina não se desculpou, apenas continuou andando.
"Mal educada." - Pensou.
Nesse momento a menina que parecia apática, parou e virou-se para tráz a encarando com um sorriso no rosto.
- Desculpe-me por isso. - Falou e seguiu seu caminho.
Julia pareceu congelar, balançou a cabeça e seguiu de volta para sua casa.
No caminho se sentiu pertubada, a cidade em si era linda, mas havia algo de errado. Tentou não pensar em como aquela garota havia adivinhado o que ela pensava naquele momento, mas era inevitável.
"Coincidência, ela só demorou um pouco pra se desculpar. Devo estar ficando louca." - Pensou enquanto abria o portão de sua casa.
******
No dia seguinta, Julia acordou mais animada. Levantou mais cedo e tomou um banho demorado, assim que sua irmã acordou, ela ligou o seu pequeno rádio.
- Você parece mais animada Ju. - Disse a irmã.
- Vá se arrumar Kath, vamos pra escola logo. - Retrucou.
As duas saíram de casa e chegaram ao colégio um pouco antes do horário, resolveram então que esperariam no pátio. Sentaram-se num banco de pedra e ficaram esperando a hora da primeira aula.
- Caramba! Aqui parece que nunca esquenta. - Disse Kath enquanto esfregava uma mão na outra.
- Está frio mesmo. Deve ser sempre assim, estamos rodeadas de montanhas. - Disse Julia.
Elas ainda conversavam sobre o clima quando Julia viu que a menina que a assustara outrora, estava chegando junto á dois rapazes.
Por um minuto Julia se distraiu os olhando, reparou no quão bonito eles eram. A menina vestia uma saia longa preta e coturnos que pareciam pesados demais para ela. Era extremamente branca e inacreditavelmente bonita.
- Góticos. - Disse Katherine. - Tem em todos os cantos dessa cidade.
- Como você sabe? - Perguntou Julia.
- Ontém fui dar uma volta depois da aula, vi muitos mesmo. No centro, na nossa rua, aqui na escola.
- E você fica andando por aqui sozinha? - Censurou Julia.
- Claro, sinto que não corro perigo. Hoje vou ao parque, quero conhecer essa cidade melhor.
"Não sente o perigo, você deve estar louca irmãzinha." - Julia pensou.
******
A semana passou rapidamente, Julia se sentia melhor e mais descontraída. Apesar de estar se acostumando com a cidade, ela ainda não havia saído á noite. Já era sexta-feira e logo de manhã ela decidiu que sairia de noite para um passeio.
Foi até a escola, parecia mais frio que nunca.
- Ju, hoje neva! - Disse Kath.
- O tempo está ótimo assim. - Retrucou.
- Louca! - Disse a irmã soltando uma gargalhada em seguida.
Julia assitiu ás aulas tranquilamente, olhava pela janela que dava para o pátio afim de ver o trio que tanto a inquietava.
Assim que a aula acabou ela desceu até o pátio e sentou-se, ficou esperando que eles aparecessem. Ela lembrava das feições da menina e inexplicavelmente, sentia-se atraída por ela.
Meia hora se passou e eles não apareceram, Julia se sentiu cansada e tentou tirá-los da cabeça, voltou para casa.
Á noite se aproximava enquanto ela se preparava para sair. Havia dito aos pais que sairia com amigos que tinha feito na escola, somente para tranquilizá-los, pois sabia que seria incapaz de penetrar no "mundo" em que seus colegas de classe viviam.
Enquanto se arrumava pensava em como a garota se vestia, no fundo, Julia a admirava e queria ser como ela. Vestiu sua jaqueta de couro, sua saia preta comprida, calçou sua bota e suas luvas e desceu as escadas de sua casa.
Despediu-se dos seus pais que estavam sentados na sala assistindo televisão. Antes de sair olhou no espelho e sentiu-se orgulhosa por estar parecendo com a menina do seu colégio.
Saiu e caminhando pelas ruas, sentiu que o frio havia aumentado considerávelmente. Não andou muito até que chegou perto de um bar. Entrou sem pensar duas vezes e pediu uma garrafa de vinho ao rapaz que estava no balcão. Andou até o lado de fora do bar e sentou em uma das cadeiras que estavam disponíveis.
Viu que muitas pessoas entravam ali e se sentiu incomodada por não ter conhecido ninguém. Muitas pessoas chegavam, jovens de motos iam e vinham com frequência. Ela estava completamente absorta, quando uma moto extremamente barulhenta parou em sua frente.
Eram eles. Um dos rapazes e a menina, indiscritivelmente arrumados.
Julia os encarou tentando mostrar que estava interessada, mas eles pareciam não notar, sem muitos rodeios, entraram no bar.
Ela estava inquieta, precisava falar com eles, tentava pensar em algum assunto interessante, mas nada vinha á sua cabeça. Decidiu então que entraria, nem que fosse para olhá-los simplismente.
Quando tomou coragem o suficiente para levantar, viu que a garota havia saído do bar e vinha em sua direção.
Sentiu seu coração bater mais forte enquanto a menina diminua a distância entre elas.
- Oi. Meu nome é Anna. - Disse a garota enquanto se sentava junto á ela.
- Oi Anna, prazer, meu nome é Julia.
Anna tinha os olhos negros como a noite, sua pele reluzia sob a lua.
- Você é nova aqui, não é? - Perguntou.
- Sim. - Julia respondeu.
- O que acha de Wilmont? - Anna perguntou.
- Interessante, um tanto misteriosa.
- E você gosta de mistérios? - Anna falou sorrindo.
- Se não gostasse não estaria aqui á essa hora.
- Perfeito. - Anna falava e parecia a hipnotizar. - Venha comigo, temos muito o que aproveitar essa noite.
Julia não conseguia falar, apenas levantou e a seguiu. As duas entraram no bar e logo Julia pôde ver aonde o rapaz estava sentado.
- Aquele é Nicholas, meu namorado. - Disse Anna. - Lindo não é?
- Todos vocês são. - Julia respondeu sem medir as palavras.
Anna se suspreendeu com a resposta e sorriu.
A madrugada chegou enquanto eles bebiam e conversavam, Julia explicava o porquê de estar morando em Wilmont enquanto Nicholas bebia, sempre abraçado á sua namorada.
- Acho que já estou bêbada demais. - Disse Julia.
- Melhor assim. - Nicholas falou soltando uma gargalhada.
Ficaram ali até que o sol começasse a nascer, o céu assumia seu tom cinza de todas as manhãs quando Julia resolveu se despedir. No fundo ela sabia que ficaria ali até que eles a mandassem embora, mas também sabia que precisava ir. Se despediu pesarosamente e partiu á caminho de sua casa.
******
O fim-de-semana havia sido patético em sua concepção. Ela havia passeado com sua família, eles quase que a forçaram a isso.
Julia não via a hora de chegar na escola e conversar com seus mais novos colegas. Estava ansiosa, mas ao mesmo tempo alegre.
A manhã de segunda-feira chegou trazendo o frio quase insuportável. Julia que não havia dormido direito, pensando em Anna e Nicholas, só levantou com muito esforço. Mesmo assim, antes de sair de casa, vestiu sua blusa vinho escuro e passou uma maquiagem pesada, sempre se concentrando em Anna.
Chegou na escola sozinha, ficou esperando que eles aparecessem novamente. Sentou-se no banco e acendeu um cigarro que havia restado da noite no bar. Anna, Nicholas e o outro rapaz logo chegaram e assim que Anna a viu, foi em sua direção.
Julia se sentiu extasiada pelo fato de Anna se aproximar e não conseguiu esconder seu sorriso de satisfação.
- Oi Julia, bom dia. - Disse Anna.
- Oi Anna. - Julia falou soltando a fumaça.
- Parece contente. - Anna falou. - Aconteceu algo?
Nesse momento Nicholas se aproximou e fitando Julia, disse em tom de surpresa:
- Nossa, você está diferente.
Julia apenas sorriu, se sentia orgulhosa por ter conseguido chamar a atenção deles.
- É. Está linda. - Disse Anna com seu doce sorriso. - E já que está tão contente essa manhã, o que acha de darmos um passeio hoje á noite? Esse frio está irresistível.
- Tudo bem. - Julia não pensou duas vezes em responder.
- Ótimo, passamos na sua casa mais tarde. - Disse Nicholas.
Julia não conseguia parar de pensar neles. Mal pôde caminhar até sua sala de aula, queria que o dia chegasse logo ao fim para que pudesse reencontrá-los.
******
A noite caiu novamente sobre Wilmont, do seu quarto Julia olhava ansiosa pela janela. Havia se vestido novamente como Anna e pensava em como parecia mais com ela á cada dia. Se distraiu olhando-se no espelho quando escutou a buzina da moto de Nicholas, correu novamente até a janela e fez sinal para que ele esperasse.
Desceu a escada apressada e mal se despediu dos pais.
Chegou rapidamente na calçada e ao se aproximar de Nicholas, não conseguiu disfarçar sua empolgação.
- Nossa, você está linda! Assim Anna pode ficar com ciúmes. - Nicholas falou e sorriu.
Julia sorriu de volta e sentou-se na moto. Ele dirigia rapidamente e ela pôde perceber que se distanciavam do centro da cidade.
- Para aonde estamos indo? - Perguntou quase gritando.
- Surpresa, mas você vai gostar. - Respondeu Nicholas.
Eles tomaram bastante distância da cidade, Nicholas agora dirigia mais devagar. Apesar de estarem rodeados pela escuridão, Julia se sentia orgulhosa e segura.
Nicholas de repente diminuiu mais a velocidade e Julia percebeu que ele entraria por uma pequena estrada.
- Agora estamos chegando. - Ele disse, mas ela não falou nada.
Entraram pela estrada estreita, no curto caminho, ela se assustou várias vezes quando os galhos das árvores bateram em suas costas. Logo estavam de frente para uma casa do meio de uma clareira.
Estava escuro, de longe Julia via as luzes trêmulas das velas que iluminavam a casa.
- Vamos. - Disse Nicholas enquanto desligava a moto e descia.
- O que vamos fazer aí? - Perguntou Julia.
- É uma festa querida. Não precisa se preocupar, tem muita gente lá dentro.
E realmente tinha. Julia se aproximou da casa de madeira envelhecida e logo que entrou na sala pôde ver as pessoas sentadas na sala. Alguns rapazes estavam desajeitados no sofá, algumas meninas cantavam e dançavam embriagadas.
Julia andou pela casa á procura de Anna, chegando na cozinha encontrou o outro rapaz. Ele estava encostado em um dos móveis e quando a viu entrando, sorriu.
- Anna está lhe esperando lá em cima, no segundo quarto á direita.
- Ah sim, obrigada. - Julia agradeceu e subiu a escada.
O andar de cima estava mais escuro, ela pôde notar que apenas uma vela iluminava cada cômodo.
Passou por um dos cômodos e se assustou com a quantidade de pessoas deitadas no chão, uma fumaça estranha pairava no local.
Entrou no quarto aonde Anna a estava esperando e viu que ela estava na janela, Anna notando sua presença, virou-se e Julia ficou perplexa com sua aparência.
A luz da lua parecia brilhar em sua pele, seus olhos negros e seu batom roxo a davam uma aparência incrível.
- Sente-se Julia. - Disse Anna, indicando a cama.
- Nossa, legal essa casa. Gostei. - Disse Julia tentando puxar assunto.
- É sim, muito interessante e divertida.
- O que aquelas pessoas fazem deitadas no chão no quarto ao lado? - Julia perguntou.
- Estão fumando ópio. - Anna respondeu e não percebeu a indignação estampada no rosto de Julia.
- Então Anna, vamos descer? Parece animado lá embaixo. - Julia falou e a viu se aproximar.
- Nós, não vamos á lugar algum. - Anna respondeu se aproximando ainda mais.
Julia tentou levantar, mas Anna a empurrou na cama. Aos poucos subiu em cima dela, forçando-a deitar.
- Você sempre me desejou não é? Sempre me quis. - Disse Anna enquanto acariciava o rosto de Julia.
- Anna, o que você está fazendo?
- Responda.
- Sim, sempre me senti atraída por você. - Julia respondeu.
- Mas como não conseguiu ficar comigo, você seguiu meus passos não é mesmo?
- Sim Anna, mas não entendo o porquê disso.
Anna puxou seus braços para cima enquanto afundava a cabeça em seu pescoço. Julia sentia sua respiração gélida e tremia de excitação.
- O que vamos fazer? - Julia perguntou.
- Não use o "nós" querida, isso não existe. Você não é digna de ser considerada como "nós".
Nesse momento Julia pareceu ter voltado á realidade, viu que o que Anna estava fazendo, fosse o que fosse, não era o que ela esperava.
Julia havia acabado de amarrar suas mãos na cabeceira da cama, sentou-se novamente em cima dela e sorriu.
- Você quis parecer comigo, ser como sou. Isso não vale muito aqui nessa cidade sabia? De qualquer forma, agora você vai conhecer melhor o que andou desejando.
- O que você vai fazer Anna? Por favor não me machuque. - Julia estava com medo.
- Você está com medo? - Disse Anna. - Não deveria, eu jamais sinto medo.
Anna colocou a mão para tráz e puxou um punhal de prata que estava preso entre sua cintura e a saia. Julia queria gritar, mas não conseguia. Ela olhava com desespero para Anna enquanto Anna levantava o punhal, com os olhos fechados.
- Anna me escuta, não faça isso comigo. Por favor. - Disse.
- Faço sim querida, faço. Você quer me conhecer? Quer ser como sou? Então é isso que você vai ter. - Anna falou e fez um corte profundo em sua mão, falou algumas palavras em latim que Julia não pôde entender. Anna esticou a mão em direção ao rosto de Julia e deixou que o sangue escorresse em sua boca.
Julia estava desesperada, não sabia o que era aquilo. Sentiu o gosto amargo do sangue de Anna em sua boca e tentou se livrar das cordas que a prendiam.
De repente Julia sentiu um forte peso sobre sua cabeça, como se algo a tivesse puxado para um sono profundo. Fechou os olhos imediatamente e embora estivesse lúcida, não conseguia abrí-los.
Seu corpo foi ficando pesado, enquanto suas costas ardiam como se alguém as tivesse queimando. Suas veias pareciam em fogo.
Suas costas doíam mais á cada segundo que se passava e ela teve a certeza de que alguém a ferira.
Soltou um grito de dor e sua voz parecia tão quente que ela sentiu como se sua garganta estivesse em chamas.
Sua dor foi cedendo aos poucos e o peso em seu corpo diminuindo. Ela abriu os olhos lentamente e viu que Anna estava no mesmo lugar, mas sua mão não sangrava mais.
- Você não sabe o que é cair! Não sabe o que é ter o fogo correndo em suas veias. Você é apenas uma vadia mortal com uma sede insignificante pelo conhecimento dos outros. Sua vida é tão frágil que eu poderia acabar com ela de olhos fechados.
- O que você fez comigo? - Julia estava quase sem voz, sua garganta ainda ardia.
- Nada além de lhe dar um pouco de mim e nada comparado ao que eu posso fazer. - Anna respondeu enfurecida. - Você não é nada além de um ser humano insignificante que se orgulha por causa de uma simples veste, você me enoja!
- O que você é? - Julia parecia incrédula.
- Não lhe interessa, não mesmo. Não á você, uma simples e mesquinha vadia.
- Me deixe ir. - Julia falou ainda com medo.
- Você vai sair daqui com vida, não precisa temer, não mais. - Anna falou e Julia sentiu que as cordas se afrouxaram de seus pulsos.
Anna se levantou e seguiu até a porta do quarto. Seus olhos pareciam mais negros do que nunca. Julia se levantou apressada e a viu de distanciar, notou quando ela virou, dois enormes cortes verticais em suas costas.
Ela ainda sentia um peso em seu corpo quando levantou e desceu a escada. Passou pela sala e as pessoas que estavam lá pareciam não se importar com sua presença.
Seguiu para fora da casa e viu que a lua iluminava o lado de fora. Sentiu medo quando pensou no caminho de volta para casa, mas temeu mais ainda em pensar em ficar ali.
******
Na porta da sala estavam Nicholas e Anna. Eles a olhavam até que ela finalmente desapareceu na escuridão.
- Ela parece ter entendido querida. - Disse Nicholas dando um gole na bebida.
- Creio que sim. - Anna respondeu.
- Você é demais. - Ele falou. - Assustou a menina mesmo.
- Eu não assustei. Ela fez isso com ela mesma. Você sabe meu amor, cuidado com aquilo... - Anna não terminou a frase.
- Que deseja. - Continuou Nicholas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário