domingo, 3 de agosto de 2008

Anne - por Malina


"Dispa-se
Desnude sua alma
Eu me acorrentarei aos seus seios
Para descançar em mármore branco
Eu me submeterei a você
Para ser devoto sob suas asas
Deusa branca ou ser humano?"
(Lacrimosa)


Numa tarde chuvosa, Anne estava na sala grande e vazia olhando com tristeza o céu cinza que parecia lamentar junto á ela.
Sua solidão inundava a sala e suas lágrimas escorriam em sua face pálida. Seu cabelo cobria seus ombros como uma mortalha fazendo-a parecer um anjo.

Só o som do piano percorria a casa, como o vento, ele invadia todos os cômodos os enxendo de melancolia.

Anne estava parada na janela, não conseguia se mover. Sabia que nada podia fazer desde que tudo começou. E que embora quisesse fugir, aquele era o seu destino.

A música se tornava mais alta a cada nota, Anne apenas fechava os olhos.

A chuva começou a cair mais forte manchando a paisagem do lado de fora, tudo agora se resumia em borrões de cinza e verde.
Anne deu um último suspiro e virou-se para sala a fitando com tristeza, caminhou até a porta e seguiu pelo extenso corredor. A música parou um instante quando Anne se aproximou da sala principal.
Ela entrou e o que viu a fez desmoronar em um choro inquietante.

- Não fique assim Anne. - Disse Philipe, o rapaz que estava sentado diante o piano e que tocava aquela sinfonia dolorosa.

Anne balançou a cabeça num ato de desespero e logo levantou seu olhar para ele. Viu como nunca a face pálida de Philipe, talvez ela nunca tivesse reparado o quanto ele era bonito. Ele vestia uma calça de veludo preta e uma blusa de babados branca, seus cabelos dourados pareciam flutuar sobre seus ombros.

- Vá embora da minha casa. - Disse Anne entre soluços mas Philipe não respondeu, virou-se para frente e continuou tocando.

Anne se aproximou dele com passos lentos. Pensou no quanto parecia pobre perto de uma figura tão perfeita como aquela. Olhou pela janela e viu que a noite anunciava sua chegada. Parou então perto do piano e acendeu o castiçal que havia sobre ele, encostou-se e olhou para o rapaz que tocava de cabeça baixa.

- Sabe, - disse Philipe - eu também não entedia o porquê de tudo isso. Passei noites de tormento antes que pudesse encontrar a luz. Sei o quanto é difícil para você nos aceitar Anne, mas esse é o seu lugar. A queremos conosco.

- Philipe, deixe-me em paz. Diga aos outros que quero que vão embora.

Philipe levantou o olhar, sua expressão era de tristeza.

- Perdoe-me.

Anne virou e saiu, foi até seu quarto arrastando os dedos na parede. Abriu a porta e entrou logo se sentando na cama. Olhou para as paredes e seu pensamento se perdeu enquanto olhava as pinturas de seus antepassados.
Ela deixou que seu olhar se perdesse por um minuto antes de abrir a gaveta da pequena cômoda que ficava o lado de sua cama e pegasse o pequeno punhal que ali estava.

A música novamente se tornou alta enquanto Anne se feria mortalmente com aquela pequena e tão delicada arma. Em poucos minutos Anne estava caída em sua cama e o sangue manchava seu vestido azul.

Phelipe continuava na sala, mas dessa vez não estava sozinho. Mais três belas moças em silêncio estavam junto a lareira.
A porta se abriu vagarosamente até que ela aparecesse. Anne vestia um novo vestido, muito mais belo que o anterior. Ela entrou pela sala parecendo deslizar sobre o chão de madeira.

- Anne. Venha, sente-se com as meninas.

As três moças agora sorriam alegremente. Uma delas se levantou e estendeu o braço para Anne. Anne se aproximou e sentou.

- É tão bom tê-la conosco querida. - Disse a moça de cabelos loiros cacheados e de olhos extremamente azuis. - Nada mais pode nos separar agora, nem a eternidade.

Do outro canto da sala Phelipe sorria.

Anne agora sabia, ali mesmo naquela propriedade ela fora sepultada, e dali, nunca mais sairia.


Um comentário:

Lady Mila disse...

amei linda...bem detalhado..quase pude tocar os sentimentos de Anne