quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Eterna solidão - por Camila Bernardini


Eterna solidão

Poucas pessoas ainda se encontravam na estação da barra funda, naquele horário da noite de sábado. July desde que fora impedida de ver a luz do sol amaldiçoada a vagar na noite eterna, ia quase todos os dias observar as pessoas naquela estação. Muitas vezes caçando vítimas, outras apenas para se distrair.
Sentou em uma das cadeiras da plataforma, que iam ao destino de Itapevi. Estava ali, absorta em pensamentos, quando a viu. Encantou-se com a beleza da mulher que ia a passos lentos, andando por ali. Ela aparentava ter uns vinte e três anos, era alta, um corpo magrinho desses de modelo de passarela mesmo, cabelos vermelhos, lisos, comprimento médio; olhos de um tom esverdeado que marcava mais ainda o rosto belo e sem marcas; as mãos pequenas delicadas, apenas com uma leve base em suas unhas pequenas. Usava uma sai indiana branca, e uma blusinha regata preta. Era bela, impressionando muito a todos que a viam passar, principalmente July, que resolveu segui-la.
As duas então entraram no trem que chegava, July ia o tempo todo a olhando, mal conseguindo disfarçar o encanto que aquela moça despertará nela. Finalmente a bela garota desceu na estação de Osasco, e o mesmo fez July, que continuou a seguindo pelas ruas. A garota estava indo em direção a Primitiva Vianco, ia encontrar seus amigos no Bar Anos 50. Foi para lá então que seguiu sem perceber que estava sendo seguida.
Chegaram ao bar e entraram. July ficou encantada mais uma vez, ao ver a decoração do lugar. Sentiu como se estivesse voltando ao tempo, com aqueles quadros do Charles Chaplin, Elvis, e tantos outros ícones da década de 50 para cá. Uma banda de classic rock estava ano palco tocando, completando o ambiente super agradável. Agora tentava planejar algo para se aproximar da garota, foi quando a viu indo em direção ao balcão onde eram feitas as batidas. Foi na mesma direção, e quando estava próxima sorriu, falando:
- Oi! Eu sou nova por aqui, estou sozinha, queria conhecer as pessoas.
A garota sorriu de volta:
- Oi, seja bem- vinda a Osasco, é um ótimo lugar para se morar! Qual o seu nome?
- July e o seu?
-Michele. Então quer sentar-se à mesa onde estou?
- Será um prazer.
July em pouco tempo já conhecia toda a turma de Michele. Estava sentada a mesa conversando com eles. A banda terminou de tocar, estavam desmontando seus equipamentos.
- July, vamos para o andar de cima, onde tem a pista de dança. Lá rola flashes backs.
- Vamos sim.
As duas então subiram para o andar de cima, e logo já estavam dançando. July queria se aproximar mais de Michele, sentir o corpo do calor dela, tocá-la. Mas tinha medo da reação. Embora fosse uma vampira, podendo a hipnotizar e fazer o que quisesse. Sentia algo diferente, e não queria estragar.
Ela continuou dançando, com medo ainda de tomar alguma atitude quando Michele começou a dançar muito mais colada com ela, sempre dando um jeito de encostar seu corpo no dela. Chegou até a ousar algumas carícias, pelo rosto de July.
- Ju, vamos ao banheiro?
As duas então seguiram até o banheiro, onde a maioria da parede era espelhada, e as que não eram com pisos alternados entre o preto e o branco. Michele ao trancar a porta, encostou July em uma das paredes e a beijou. Foi um beijo demorado. Enquanto as mãos das duas rolavam soltas umas pelo corpo da outra. A vampira escorregou o beijo para o pescoço de Michele, logo sentiu aquela imensa vontade, seu instinto assassino de experimentar o sangue da encantadora garota que conheceu, mas se controlou. Não queria tornar uma pessoa tão bela e iluminada em um ser das trevas. Não a levaria consigo para a ponte, que não deixava chegar a lugar nenhum, nem na vida, nem morte. Viver como uma condenada, a maioria do tempo solitária, vagando só pelas ruas escuras apenas para saciar uma sede incontrolável. Foi então que empurrou Michele para que se afastasse dela, e correu, com sua velocidade vampiríca, saído do bar e deixando todos espantados.
July foi parar nas escadarias da igreja Santo Antônio, sentou ali. Lágrimas de sangue escorriam sobre sua face branca. Pela primeira vez na vida tinha se apaixonado, por isso mesmo tinha que se afastar. Seria um perigo mortal a Michele. O melhor teria sido se ela não tivesse há seguido. O seu destino seria eternamente esse. Nada poderia fazer apenas aceitar a maldição dos filhos da noite.

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