quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Segunda visita a Dire Straits- por Camila Bernardini


"Marcos sua existência na terra foi há de um anjo, agora de onde estiver sei que nos protege”

Já havia se passado dois meses desde que Camila fora para Dire Straits. O fato é que naqueles últimos dias não conseguia tirar aquela estranha cidade de sua cabeça. O estranho acontecimento no parque, as pessoas que conheceu. Tudo pedia para que ela voltasse ali. Pensando nisso, decidiu levantar-se da cama e ir naquele mesmo momento. Olhou pelo vidro de sua janela, a chuva forte continuava caindo sem mostrar a mínima intenção de parar ou diminuir, mesmo assim decidiu arriscar e claro que isso não a impediria de ir com sua moto, fiel companheira de estrada.
Vestiu uma roupa que a protegesse do frio e partiu. Enquanto em alta velocidade, corria pela estrada, deixando tudo o mais para trás, sentiu-se bem. As grossas gotas de chuva que caiam pelo seu corpo não a incomodavam, pelo contrário dava um sabor a mais de aventura. Era assim que se sentia, amava viajar e sua moto. Tinha uma vida meio solitária, mas sabia que assim não sofreria tanto como já sofreu um dia. Viu então a placa que deseja Boas Vindas a cidade, que a fascinará e a atormentará em alguns pesadelos após te ido embora de sua primeira visita a ela.
Foi diminuindo a velocidade, para percorrer as ruas com tranqüilidade. Pegou uma avenida que parecia ser a principal, logo achando um hotel. Resolveu parar ali para tomar um banho e por uma roupa seca que colocará na mochila. Depois ia ver se encontraria algo para fazer, achando meio difícil por já ser altas horas da madrugada. O recepcionista do hotel era um homem estranho (mas isso ela já achava normal, tudo naquela cidade fora estranho para ela). Pediu um quarto, e sem mais conversas subiu. Estava louca para tomar um banho.
Saulo, porém, assim que viu a garota entrar no elevador, pegou o telefone ao lado da mesa da recepção e discou para Sarah. Quando finalmente alguém atendeu era uma voz sonolenta e irritada.
-Alô, o que você quer essa hora?
- A garota voltou esta no hotel que eu trabalho.
-ótimo, me mantenha informada.
Sarah desligou o telefone sem nem agradecer. Saulo odiava aquela forma dela tratar seus discípulos, só não falava nada, por que sabia que tinha que respeitar sua sacerdotisa. E outros que tentaram desafiá-la tiveram um fim trágico. Ele não queria perder tudo que tinha conquistado depois de entrar naquele mundo, que ela o mostrará.
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Camila tomou banho quente, trocando de roupa e logo já estava perambulando pelas ruas. Decidir ir caminhando dessa vez aproveitou que naquele momento só garoava, e um guarda-chuva bastava. Em poucos minutos encontrou uma espécie de bar, com uma grande placa escrito fênix. Viu muitas pessoas do lado de dentro, devia ser um lugar legal. Entrou no ambiente. A primeira coisa que fez foi observas o local. Sentou em uma mesa após pedir uma garrafa de vodka. Estava distraída com sua bebida, e deixando se levar pelo som da música, não sabia quem cantava, mais era um som de blues gostoso de ouvir, quando uma mulher sentou em uma cadeira na mesma mesa que ela. Camila a olhou era loira, cabelos encaracolados e compridos, olhos grandes e longos cílios, uma boca atraente, alta.
- Oi, sou Sarah!
- Camila.
- Me perdoe por já ir sentando assim, te vi sozinha e achei que talvez quisesse uma companhia.
- Gosto de estar só, existem pessoas que nos roubam da solidão, sem em troca nos oferecer verdadeira companhia.
- Frase filosófica, você que criou?
- Não. Mas desde que a ouvi pela primeira vez, me identifiquei muito com ela. È de um filósofo chamado Nietzch.
- Já vi que gosta de filosofia. Deve ser uma garota misteriosa.
Camila riu:
- Não Sarah! Nem tanto.
As duas continuaram por horas conversando. Camila sempre tinha facilidade em fazer amizade com as pessoas, e todo mundo que acabava de conhecer, na verdade parecia que já conhecia á séculos. Era sociável, e por isso já havia sofrido de mais com pessoas que julgara um dia terem sido suas amigas. Hoje em dia conhecia pessoas, mas não queria mais laços de amor com ninguém.
- Quer ir lá para casa?
- Mas nem nos conhecemos Sarah!
- Vamos? È aqui pertinho depois voltaremos para cá.
Pagaram a conta do bar e saíram. Enquanto caminhavam, Camila encontrou Renan, um dos irmãos gêmeos que estavam com ela no parque no primeiro dia que viera a Dire Straits. Sarah ficou meio aborrecida com o encontro, mas acabou convidando o garoto a ir junto com elas. Assim seguiram os três.
Os dois estranharam a decoração da casa de Sarah; por todos os lados, velas, pentagramas, incensos e coisas do tipo. Era uma ambiente com uma energia um pouco pesada. Ela pediu que os dois esperassem ali, que ia preparar uma bebida. Após beberem, Renan e Camila dormiram, caindo em sono profundo e sem sonhos.

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Camila abriu seus olhos, estava em uma trilha. Na trilha de um parque. Após alguns minutos sem entender, lembrou que estava em Dire Straits. Mas não sabia como havia parado ali. Ao perceber que era o mesmo parque da visita anterior, seu corpo todo se arrepiou. Sentiu medo e dessa vez estava sozinha. Os passos lentos, congelado por um pânico que já dominava, caminhava para tentar sair dali. Foi então que viu a sua frente Marcos. Mas não podia ser. Marcos fora um amigo muito querido que morrerá a dois anos atrás, a deixando com muita saudade. Olhou de novo, seus cabelos negros, longos enrolados, seu nariz comprido e pontiagudo (motivo de brincadeiras da turma na época de escola), sua pele branca e olhos que expandiam tanto brilho que seria impossível de se notar, estava ali a sua frente. Por um segundo ela pensou que também estivesse morta.
- Marcos.
- Vim tentar te ajudar. Quem está me vendo é seu espírito que nesse exato momento está livre da matéria. Seu corpo esta naquela mesma pedra que você viu a garotinha. Junto está Renan e Tamara.
- Mas como?
- Sarah, é aquela mulher de túnica vermelha.
- Mas eu achei que nada daquilo tinha acontecido. Sendo que aquele dia no parque, os amigos de Tamara não haviam sentido o tempo que passamos longe deles.
- Foi um feitiço do tempo feito por eles.
- Eles? Mas quem são eles?
-São adoradores de uma seita. Para você entender melhor, Sarah é uma feiticeira muito forte, tem grandes conhecimentos em magia e nos mistérios que regem a lei da vida e da morte. Ela é única mulher, todos os seus discípulos a protegem, em troca de imortalidade.
-Imortalidade?
- Foi um segredo descoberto pelos gregos, mas tão bem guardado que nem um estudioso jamais descobriu. Diz à tradição que uma vez por mês, sacrificando o sangue de uma criança virgem e oferecendo a Hádes. Ele permite que a jovialidade e o fio da vida continuem existindo a todos que participam desse ritual de sacrifício. E foi isso que você presenciou há dois meses.
- E o que eles querem agora de mim?
-Existe uma forma de todos eles conseguirem ser imortais durante cem anos sem precisarem fazer esse ritual.
- Qual?
- Descobrindo as duas filhas da Lua, que vem a terra a cada cem anos. Sacrificando-as, o poder deles aumentará muito mais.
- Filhas da lua? E o que eu tenho haver com isso? E Tamara e Renan?
- Você e Tamara são as Filhas da Lua! Renan só está aqui por ter te encontrado a caminho da casa de Sarah.
Camila achava difícil acreditar naquela história toda. Mas Marcos estava ali, diante dela não estava? O olhou mais uma vez e só então notou asas saindo de suas costas. Ele percebendo o olhar curioso ao mesmo tempo em que estampando, riu:
- Digamos que sou um Anjo.
- E o que vamos fazer?
- Primeiro tem que voltar a seu corpo. Lá use seus poderes.
- Até minutos atrás eu nem sabia que tinha poderes,
- Saberá usá-los, prometo.
O espírito de Camila, então foi sendo puxado, até entrar em seu corpo de novo. Ela então abriu seus olhos, estava sentindo frio, deitada naquela pedra úmida. Do seu lado Tamara também abria o olho e a olhava. Não fosse a situação abraçaria a menina, que tinha a cativado tanto.
- Vejam quem acordou.
Era Sarah, que esperava que as duas Filhas da Lua despertassem para dar início ao ritual de sacrifício que a deixaria sossegada por um bom tempo. Seus discípulos já estavam frenéticos e ansiosos para se verem livres por um bom tempo. Saulo perto de Sarah sentia-se triste, tinha se apaixonado por Camila. Não sabia como, não tinha tido diálogo ou mesmo contato físico, mas algo mais forte o dominará. Porém não ia abrir mão de nada, para defendê-la. O medo da morte e dos castigos que Sarah poderia fazer que ele enfrentasse era maior.
Sarah lia os pensamentos de Saulo, foi em sua direção e o beijou. Um beijo longo. Ao terminar o beijo, ele já não se lembrava o motivo que o afligirá instantes atrás. Primeiro matariam Renan, a chave menos importante de tudo aquilo. Com sua adaga na mão, Sarah o atingiu no coração, logo em seguida Saulo retirava o corpo de cima da pedra.
Lágrimas escorriam pelos olhos das duas meninas, mas elas não sabiam o que fazer. Tamara no tempo que esteve inconsciente também viu um “Anjo”, mas não sabia como usar seus poderes. As duas por instinto se deram as mãos em um quase gesto de adeus. Nesse momento que se tocara, uma luz muito forte ilumino todo o local. A claridade era tamanha, que pareciam estar à luz do dia. Nesse momento, muitos da espécie de Marcos foram vistos por todos ali presentes. Cada um desses “anjos” carregava em suas mãos uma lança dourada, com pequenos adornos de raios desenhados por todos os seus comprimentos. Muitos dos discípulos de Sarah escondiam os olhos, pois a luz os estava incomodando. Ela mesma não entendia o que acontecia.
Camila e Tamara estavam de pé em cima da pedra ainda de mãos dadas. Sentiam um fluído de energia vindo em todas as direções e entrando por entre seus poros. Olharam para o céu simultaneamente, a lua brilhava forte, e luzes de todas as cores parecia surgir de lá, descendo até elas. Uma dessas luzes tomou forma de uma mulher, com uma beleza tão surreal que fez com que os que pudessem olhá-la, nem desviassem o olhar.
Sarah se congelou ao ver que era Lua. Rapidamente tentou invocar os espíritos das trevas que guardavam todo o conhecimento que sabiam. Alguns vultos negros até surgiram, mas logo sumindo por não suportarem a pureza que emanava daquele lugar. Lua nunca tinha sido disperta a terra antes, o poder dessa nova filha delas era realmente forte. Sabia que o mundo estaria protegido.
Com todos paralisados pelos acontecimentos, nem perceberam que Sarah, ainda com sua adaga correu em direção a Tamara para tentar acertá-la. Porém quando chegou perto, algo inusitado mais uma vez aconteceu. Um rosto surgia entre as luzes, de um homem loiro de olhos verdes:
- Chega Sarah. Chegou seu fim.
Após as palavras, o corpo dela foi perdendo a forma jovial, tornando um corpo velho, mumificado, até cair morta ao chão. Logo, esse processo também acontecia com todos os seus discípulos. Os “anjos” então, cada um deles se aproximou de um dos corpos, atingindo suas lanças no lado esquerdo, onde ficava o coração, logo sumindo de vista dos que continuavam presentes.
Lua, olhou para suas filhas, sorrindo:
- Hora de voltarem para casa.
As meninas então se transformaram em duas esferas de luz, que subiam cada vez mais alto pelo céu, desaparecendo para sempre da existência terrestre.
Marcos com uma lágrima, por saber que onde Camila estava, seria proibido sua visita, gritou:
- Bom dia!
Dessa vez seria mesmo a última que diria isso a ela. Não imaginou que ela ainda pudesse escutar gritando de volta:
- Você realmente é um Anjo.

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