sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Auto-destruição por Malina


"Porque diabos a beleza machuca ?
Porque raios a beleza conduz à dor ?
De ambas as formas isso termina em dor
De qualquer forma - me dê sua beleza agora
De qualquer forma - espalhe minhas veias
Me amaldiçoe e me torne um enigma
A estrada para a dor é calçada pela beleza..."

(Lacrimosa)



Olá. Meu nome é Jöhn, tenho trinta e sete anos e um desabafo para fazer. Há algum tempo atrás eu tinha uma vida normal, uma esposa e duas filhas lindas que me amavam incondicionalmente. Prestava um serviço quase que voluntário em uma igreja e tinha um bom emprego que me permitia aproveitar de uma vida confortável.

Bom, eu poderia achar que tudo o que houve comigo, não passou de um pesadelo, mas as coisas infelizmente não são tão simples assim. Eu perdi tudo e estou á um passo de acabar com minha própria vida.
Sou um covarde? Quem sabe. Mas não me interessa mais viver. Eu poderia recomeçar do "zero" e tentar seguir um novo caminho, mas não tenho forças para isso. Deus sabe, não tenho mesmo!

*****

Eu me casei novo, com uma moça pura e muito bonita além de carinhosa e cuidadosa. Assim que a conheci, minha vida tomou um rumo certo. Deixei todos os erros para tráz e segui o caminho ao lado dela. Logo veio minha primeira menina e alguns anos depois, a segunda. Agora sei, eu tinha uma vida perfeita.

Não quero aqui, caro leitor, me lamentar. Eu errei e assumo meu erro, mas preciso desabafar. Provavelmente você sentirá raiva antes mesmo de ouvir o final da minha triste história, mas não há problema, eu mais do que ninguém sei o quanto fui tolo.

Como disse, tinha uma família perfeita. Minha esposa me amava e minhas filhas viam em mim um exemplo a ser seguido. Eu por minha vez, me sentia forte. Durante vinte anos de casamento nunca me senti abalado, nem interessava qual era o problema, eu sempre o resolvia com coragem e força. Nunca me deixei abater e era convicto em minhas escolhas.

Convicção. Essa foi minha maior qualidade durante esses vinte anos e por incrível que pareça, foi o que causou minha destruição mais tarde.

*****

Eu sempre acreditei em Deus, mesmo hoje, estando á beira da morte, ainda acredito e tenho esperanças de que Ele me perdoe pelo que fiz.
Como eu disse, eu prestava um serviço voluntário na paróquia da minha cidade. Todos os fins-de-semana eu me reunia com jovens que se encontravam em uma fase difícil. Alguns eram drogados, outros revoltados e outros fanáticos mesmo, que achavam que era sempre bom falar sobre seus pequenos problemas.
Como psicólogo, eu os ajudava. Meu trabalho era praticamente terapias em grupo e ás vezes sessões individuais, quando o caso pedia mais sigilo.
Eu estava seguro ali, sabia o que estava fazendo e me sentia orgulhoso em poder ajudar meus irmãos.

O grupo era bem conhecido, pois por mais que eu me esforçasse, a "cura" não dependia só de mim. Muitos daqueles jovens, assim que encontravam a primeira resposta para os seus problemas, sentiam uma falsa segurança e baseados nisso, voltavam a ter uma vida sem restrições o que mais tarde, os prejudicava novamente e eles voltavam para terapia.

Eu os conhecia muito bem e gostava deles assim como gostava do meu trabalho ali. Não pretendia parar nunca, mas tive que parar. Depois do que aconteceu eu ainda tentei ficar ali, mas não era justo. Eu não era mais o mesmo.

******

Certo dia, eu havia chegado mais cedo na igreja. A igreja era exageradamente grande e fria e nessa tarde a chuva parecia deixar o lugar mais gelado do que nunca. Eu estava sentado em minha mesa que ficava na lateral do altar, não havia mais ninguém ali. Estava distraído organizando alguns papéis quando escutei passos vindos da imensa porta de entrada.
Levantei o olhar e vi uma moça vindo em minha direção. Assim que ela se aproximou, vi que era nova, com seus dezessete, dezoito anos. Ela estava completamente molhada por causa da chuva e seus cabelos estavam agarrados em seu rosto pálido.
Vestia uma saia preta de crepe indiano e uma blusa de renda por debaixo da jaqueta de couro. Usava uma maquiagem escura borrada e tinha discretas olheiras.
Ela se aproximou e sentou-se na cadeira em minha frente.

- Olá. - Eu disse. - Em que posso ajudá-la?

- Não creio que meu problema tenha solução. - Ela respondeu com sua voz doce.

- Todo problema tem uma solução, mas se não acredita na sua, o que faz aqui?

- Vim somente para estragar sua tarde. - Ela falou e eu sorri.

- Não acho que uma moça tão linda vá estragar minha tarde tão facilmente. - Respondi com bom humor, ela não respondeu. - Sou voluntário aqui, sou o psicólogo da paróquia. Quem sabe não podemos conversar e achar juntos uma solução?

- Primeiro, não preciso da sua caridade nem da sua piedade. Não uso droga e nem me prostituo portanto não ache que estou tão vulnerável á sua fé.

- Não achei isso. - Falei. - E já que você não é nada disso, me sinto aliviado. O que lhe aflinge?

- Eu mesma. Eu me odeio, eu não presto e não mereço mais viver. - Ela disse, sempre com os olhos nos meus.

- Seja lá quem lhe falou isso, não merece sua atenção. O que lhe faz pensar assim?

- Minha vida, ela toda foi um desastre. Sempre tomei as decisões erradas, sempre escolhi o caminho mais doloroso.

- Há sempre tempo para quem quer recomeçar... - Não acabei de falar quando celular dela tocou, ela se levantou e disse que precisava partir. Eu fiquei meio tonto com aquilo tudo e tive tempo apenas de me despedir.

A acompanhei até a porta da entrada, do lado de fora a chuva caía mais forte. Ela desceu as escadas e eu fiquei ali parado, olhando aquela menina tão doce, que á cada segundo sumia como um vulto na paisagem cinza.

******

Minha tarde não foi mais a mesma, quase não tive cabeça para pensar em outra coisa senão na misteriosa menina de preto. Não via a hora da sessão acabar com os meninos e eu sair dali, no fundo, eu queria a encontrar novamente.

E assim o fiz. Assim que acabei meu trabalho, juntei rapidamente meus papéis e os guardei na minha maleta. Me despedi de todos e saí apressadamente em direção ao estacionamento.
Aproximando do meu carro vi que havia alguém encostado nele, eu estava com pressa por causa da chuva e assim que cheguei mais perto, vi que era a menina.

- Oi. - Falei tentando disfarçar minha surpresa. - O que faz aqui nessa chuva?

- Estava lhe esperando. - Ela disse. - Você pode me dar uma carona?

- Sim, claro. - Abri a porta do carro. - Entre por favor.

Entramos no carro e eu arranquei em seguida. Olhei para o lado e a fitei discretamente. Por debaixo da sua saia quase transparente sua pele pálida parecia reluzir. Me senti constrangido quando vi que ela notou meu olhar.

- Você acredita em Deus? - Ela perguntou.

- Muito. - Respondi. - Você não?

- Não.

- Porque?

- Se ele existe mesmo, é muito indiferente.

Eu sorri, estava acostumado com aquele tipo de opinião.

- Qual seu nome? - Perguntei.

- Sabine, mas se fala "Zabine", é em alemão.

- Belo nome Sabine. E para onde quer ir?

- Tanto faz, minha casa me entedia. Você tem algo para fazer agora?

- Não. - E esse foi meu primeiro erro. Eu tinha. Todos os dias eu buscava minhas filhas na escola, mas nesse dia eu resolvi mentir e não as busquei.

Parei em um posto de gasolina e desci, falei que ia ao banheiro e a deixei no carro esperando. No banheiro liguei para minha esposa avisando que tinha ocorrido um emprevisto e que não pegaria as meninas na escola. Disse que ia demorar.

Voltei ao carro e ela estava lá, linda, me deixando inseguro á cada minuto.

- Já sei aonde podemos ir. Conheço um barzinho muito legal, você bebe não é?

- Só socialmente e muito de vez enquando.

- Ah não acredito! - Exclamou. - Nem uma taça de vinho?

- Quem sabe.

Ela me guiou até o tal lugar. Era quase na saída da cidade. O bar era na verdade um chalé. Pequeno e aconchegante, com uma vista maravilhosa.
Entramos e nos sentamos numa mesa perto de uma janela. Lá fora, a bela paisagem montanhosa me confortava.

Ela pediu duas taças de vinho e tirou a jaqueta, quando percebi que não tirava os olhos do seu delicado decote, vi que não deveria estar ali.

- Vai fazer o que quando sair daqui? - Ela perguntou.

- Vou pra casa, minha esposa está me esperando. - Resolvi ser sincero e achei que ela iria se surpreender com a resposta, mas isso não aconteceu. - E você?

- Não sei. Não vou sair daqui muito cedo.

- É? - Tentei evitar, mas não consegui. Eu queria mesmo saber o porquê dela ficar ali até tarde. - E o que vai ficar fazendo aqui sozinha?

- Não vou ficar sozinha, vou ficar com você. - Nesse momento ela se levantou e sentou no meu colo, de frente pra mim. Ela segurou minha nuca, sua mão estava completamente gelada, começou a me beijar. Seus lábios macios em minha boca hora escorregavam até meu queixo e seguiam pelo meu pescoço. Ela fazia pequenos movimentos com os quadris deixando que sua perna fria arrastasse em minha cintura. Eu fiquei completamente excitado e ela pôde sentir, o que a deixou mais empolgada ainda.

- Eu te quero, - Ela falou me fazendo gemer baixo. - agora.

Ela se levantou e segurando minha mão, seguiu até perto do balcão. Chamou um rapaz e falou algo que não pude entender. Logo estávamos subindo uma pequena escada que ficava ao lado do balcão.
Entramos em um quarto. Tinha uma cama no centro, o cômodo não era muito grande. Ao lado da cama havia uma mesinha com algumas velas artesanais, ela as acendeu e fechou as cortinas da única janela que havia.

Se aproximou de mim e tirou sua blusa, eu não conseguia pensar em nada. Ela então segurou minhas mãos e colocou-as em seus seios. Aquela pele macia me deixou louco. Agarrei-a com força e comecei a beijá-la, desci pelo seu pescoço e cheguei ao seus seios, ela jogou a cabeça para trás e segurou forte meus cabelos.

Logo suas mãos estavam abrindo minha calça enquanto eu a beijava por inteiro. Tirei cada peça de sua roupa e deitei-a na cama. Ajoelhei-me entre suas pernas e beijei seu umbigo, desci até no meio de suas pernas e a senti contorcer de prazer.

Subi novamente e beijando seus seios a penetrei com força, o mais profundo que consegui. Estava extasiado. A cada movimento eu enlouquecia.
Virei-a de costas e segurando sua cintura, penetrei-a novamente. Dessa vez com mais força e mais profundamente. Passei a mão em suas costas suadas até que cheguei em seu cabelo, agarrei e os puxei para trás.
Ela soltava gemidos gostosos enquanto eu me sentia completamente hipnotizado.
Puxei então seu corpo para perto do meu e acariciando o mesmo, tive o primeiro orgasmo. O primeiro, de muitos.

Quando acabamos fui até a janela, a noite finalmente caía sobre a paisagem. Olhei para trás, ela estava deitada na cama. Seus cabelos já secos, mostravam suas belas ondas, sua pele pálida e suas belas curvas me mostraram o quanto me sentia satisfeito.
Logo ela se levantou e começou a se vestir, eu fiz o mesmo.

- Você tem que ir. - Ela falou.

Eu obedeci, simplismente. Logo estávamos descendo a pequena escada. Assim que chegamos de volta perto do balcão, vi que uma outra menina nos olhava. Com as roupas parecidas, mas com a parência mais séria.
Me despedi e fui embora.

******

Por incrível que pareça, não me senti culpado. No caminho pensei na longa tarde que passei com a pequena Sabine e me senti muito contente.
Cheguei em casa e não precisei me explicar, minha esposa jamais desconfiaria de mim.

E como naquela tarde, muitas outras aconteceram. Sabine não cansava de me procurar e eu a desejava mais do que qualquer outra coisa.
Ela passou a frequentar as reuniões com o grupo da igreja, mas nunca falava muito de si. Ficava apenas me provocando com aquele olhar excitante de sempre.

Transamos muitas vezes e eu estava completamente envolvido. Não conseguia ver o perigo que me rodeava.

Certa vez, no inverno, estávamos eu, ela e mais três rapazes. Durante a sessão, ela me provocou muito, acariciando discretamente suas pernas. Assim que acabamos e os rapazes foram embora, ela me puxou até o interior da igreja. Andamos apressados até uma pequena sala, onde ficavam umas estátuas antigas e ali mesmo ela começou a me beijar. Ela me beijava e sua mão percorria todo meu corpo, ela se virou então e começou a rebolar em minha frente, encostada em mim. Aqueles movimentos me deixaram louco e eu a inclinei para frente, levantei sua saia e me livrei de suas roupas íntimas, a penetrei ali mesmo. Transávamos ferozmente, quando ouvi a porta se abrir atrás de mim, mas não consegui parar o que estava fazendo. Cada vez mais rápido e mais forte, eu a sentia por inteiro, me envolvendo.

A pessoa foi se aproximando aos poucos até que chegou ao meu lado e só nesse momento, olhei para o lado, ela também olhou.

- Eleonora. - Ela disse entre gemidos. A menina que nos olhava, era a que eu havia visto no bar, em nosso primeiro encontro.

Eleonora sorriu e se aproximou de nós. Eu não conseguia parar de me mexer entre as pernas de Sabine. Eleonora passou então a mão em minha boca e em seguida me beijou, aos poucos tirou minha roupa logo ficando nua.

Eu peguei Sabine no colo e coloquei-a em cima de uma mesa que ficava no fundo da sala, subi na mesma e me ajoelhei entre suas pernas, a penetrando novamente. Eleonora também subiu e deixou que Sabine fizesse sexo oral nela enquanto transávamos.

Pouco tempo depois estávamos os três completamente despidos, unidos pelo prazer. Eleonora revezava me beijando e beijando Sabine. Parecíamos unidos por um laço invisível, parecia que eu as conhecia há séculos.

Eu estava perto de chegar ao orgasmo e notei que elas também. Elas me olhavam e soltavam gemidos quando de repente a porta abriu novamente, estavamos no fundo da sala, de frente para a porta. Quando a porta se abriu por inteiro, pude ver que era o padre. Mas eu não respondia mais por mim, continuei o que estava fazendo e elas começaram a gemer cada vez mais alto, eu mesmo soltei vários gemidos até que nós três gozássemos juntos, na frente do padre, que nos olhava incrédulo.

O padre desmaiou, não sei se de susto ou de medo. Assim que ele caiu, nós três paramos, elas se vestiram e saíram sem falar nenhuma palavra. Só aí que fui ver o que tinha feito.

Mas era tarde demais.

******

Logo todos os membros da igreja sabiam o que eu tinha feito, minha esposa foi uma das primeiras a saber. Ela viajou para outro estado com minhas filhas. Nunca mais as vi, desde então.

Já se passaram três meses desde que isso ocorreu e nunca mais vi nem Eleonora e nem Sabine.

Tenho vivido esses dias com a culpa e o arrependimento. Eu era tão convicto, achava que nada me abalaria ou abalaria minha vida perfeita. Estava certo de que Deus me protegeria de todo o mal e viva falando isso da boca pra fora, como muitos ainda falam naquela igreja.
Mas caro leitor, eu não conhecia o mal. Não um mal interior ou um mal supérfluo, o mal que poucos conhecem. O mal que é capaz de seduzir e destruir um homem, além de o envergonhar perante uma sociedade.

Aqueles momentos de prazer nada eram senão minha própria destruição. Minha auto-destruição.

Um comentário:

Adriano Siqueira disse...

Olá Malina,

seu conto foi comentado no blog insônia... blog especifico para histórias fantásticas.
dá uma olhada no link abaixo!!!
Parabeeeeeeeeénnss!!!!

http://bloginsonia.wordpress.com/2008/09/27/radar-radar-insonia-3/