quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Minha Vez - Adriano Siqueira

Sempre fico esperando perto do prédio onde ela mora.
Uma pena que meu amigo tenha sido escolhido pela empresa de táxi para levá-la ao trabalho. Queria eu ter a sorte dele.
Ela usa geralmente um vestido longo que, com o vento, mostra suas pernas morenas e lisas. Ela sempre olha para os lados e beija o meu amigo antes de entrar no carro.
Nunca vou saber se ela me vê. Acho que não. Ela sabe que fico ali para pegar a senhora que mora em frente ao seu prédio.
Mas o meu amigo vê e ri. Pois tenho que ajudar a senhora a entrar no carro e ela acha que sou desajeitado e geralmente me dá uns beliscões. Ah! Um dia isso vai mudar.
No outro dia, eu estava sentado no carro com a cabeça para trás, os olhos fechados, esperando a senhora descer do prédio, quando senti uma sombra passar por mim. Era ela. Não a senhora, mas a mulher que idolatrava.

- Oi, meu nome é Bia. Seu amigo não veio. Poderia me levar ao trabalho?
Eu gaguejava. Mas não muito, para ela não perceber. Mas ela não perdia a pose e disse:
- Não vai abrir a porta?

É verdade. Meu amigo sempre fazia isso. Uma prova de bons costumes.
Depois de eu ter aberto a porta, ela colocou as mãos no meu rosto e me deu um beijo. Um beijo demorado. Virou-se e entrou no banco de trás.
Rapidamente entrei no carro e, após ela ter me dito onde era o trabalho, segui o caminho conforme o planejado.
Maravilhosa. Vi seus olhos pelo retrovisor, ela pega o batom na sua bolsa e passa vagarosamente na boca. E olhava, e como olhava.
Suas mãos iam ao encontro dos meus ombros e carinhosamente dizia no meu ouvido:

- Relaxe, rapaz. Não vou te morder.

Suavemente, suas mãos vão desabotoando meus botões, me deixando suado e com a respiração muito lenta.

- Então você me espionava? Que menino levado.

As mãos dela já estavam na minha calça. Ela dominava por completo a situação.
- Entre neste beco.

Quem era eu pra dizer não? Afinal esperava aqueles toques há muito tempo. Aquelas pernas passando nas minhas e seus dentes passando pelo meu ouvido. Sentindo sua respiração, junto com as mãos macias, me fazia ficar à sua mercê.
Quando ela subiu na minha frente e sentou no meu colo olhando para mim. Começou a beijar meu peito e meu pescoço. Eu brincava com sua face. Lambendo seu pescoço, levemente embriagado com seu doce perfume.
Aquela manhã estava perfeita.
Depois que terminamos ela disse que dispensaria meu amigo, mas que antes tinha um presente para mim. Ela tirou a calcinha e colocou na minha mão dizendo que era um presente. Um presente para eu não esquecer aquele dia.
Foi quando ouvi batidas na janela. Batidas fortes.

- Vamos, homem, me ajuda a entrar.

Era a senhora. Mas que diabo. Eu ainda estou na frente do prédio. Então era tudo um sonho.
Olhei para o lado e vi a Bia saindo do prédio, mas antes de entrar ela olhou para mim. E piscou. Eu não acreditei. Fiquei até suado. Eu ia colocar a mão na testa para tirar o suor e foi então que percebi.
Eu estava com a sua calcinha nas mãos.



Este conto foi escrito em 2003 e esta também no site Usina das Letras. Chegou a ficar em primeiro na lista de leitura por mais de 15 dias.
abraços
adriano siqueira

Um comentário:

Lady Mila disse...

sempre fui apaixonada por esse seu conto....quem disse que nossos sonhos não podem se tornar reais?