Sentada em uma mesa bem ao canto do bar Fênix, estava Violet sozinha, acompanhada por uma taça de vinho sempre cheia por um dos garçons. Olhava para as pessoas, a maioria acompanhada por amigos. Todas rindo, bebendo em suas mesas, algumas dançando ao som da banda que tocava ao vivo algumas músicas de classic rock. Sorria sozinha, ao lembrar-se da pergunta de um de seus antigos amigos da época de escola: “O que dói mais estar acompanhada e se sentir só ou realmente estar só?” Na época não soube responder, mas hoje entendia perfeitamente que muitas pessoas ao redor, muitos amigos para conversar e se divertir não queria necessariamente dizer que não era uma pessoa solitária. Dos seus amigos, quantos realmente a conheciam? Entendiam seus gestos ou procuravam saber seu passado? Quase nenhum deles sabia os poucos que sabiam eram pessoas que ela jamais retornaria a ver, pois à distância, o tempo e o amadurecimento pessoal de cada um fez com que tomassem rumos diferentes.
Conhecia muitas pessoas é verdade, mas na verdade ultimamente andava enjoada delas. Sabia que muitos mantinham apenas aparência e para não se sentirem totalmente sós em seu mundo de fantasia fingiam gostar uma das outras. Logo que Violet começou a conhecer as pessoas que freqüentavam a noite em Osasco, achou uma maravilha. Tantos estilos diferentes, punks, góticos, grunges, roqueiros, metaleiros. Mas todos pareciam ser unidos por irem ao mesmo lugar para passar a noite juntos trocando informações, havia até uma comunidade no Orkut dizendo ser o único lugar onde podiam encontrar todos os estilos e um respeitar aos outros. Aos poucos foi vendo que não era bem assim, que no fundo uns se achavam melhores que os outros, falavam mal de amigos pelas costas. E essa hipocrisia foi a cansando tanto ao ponto de não saber em quem confiar em quem eram as pessoas que realmente gostavam dela do jeito que era. Foi se afastando das pessoas até sobrarem poucas que realmente se importavam e procuraram saber o motivo do afastamento dela.
Depois de um tempo começou a andar sozinha pelas ruas de Osasco, procurava lugar onde teria apenas rostos desconhecidos para observar, assim como essa noite. Às vezes sentia-se triste, mas não importava. Era bem melhor assim do que viver e um mundo de ilusão para o resto de sua vida.
Um garçom aproximou-se para encher novamente sua taça, mas ela não queria mais vinho:
- Me traga um saquê com Kiwi, por favor!
- Como quiser senhorita!
O garçom afastou-se da mesa. Estava curioso em saber o que uma menina fazia sozinha em um lugar como aquele. Observou-a entrar e se encantou com o seu estilo, uma boina preta, que escondia um pouco de seus cabelos negros e cacheados que caiam cobrindo um rosto branco sem marcas. Olhos tão profundos na maneira de olhar, que pareciam se expressar sozinhos sem ajuda das palavras, quando queriam. Uma calça Jeans preta colada ao corpo que delineavam suas belas curvas, um corpete preto com um decote que deixava quem visse com vontade de descobrir um pouco mais. Um longo sobretudo preto, e botas de couro de finíssimo salto completavam o vestuário da garota parecendo ser uma dessas meninas francesas do século 19. Mas não podia se dar ao luxo de ficar admirando os clientes daquele local, tinha que continuar o seu trabalho. Poucos minutos depois levou à bebida a mesa dela e se afastou, mesmo com uma imensa vontade de ficar ali e conversar um pouco.
******
Dentre a porta de entrada acabava de passar um homem, que muitas das mulheres ali presentes olharam, algumas discretamente outras sem ao menos se preocupar em disfarçar. Ele tinha quase 1,80, cabelos compridos e encaracolados, a pele morena, olhos de um castanho tão claro que pareciam transparentes e reluzentes. Escolheu uma das mesas do fundo do bar, perto de onde se encontrava Violet, que também ficou espantada com a beleza do homem a sua frente e com a elegância em que se vestia calça e camisa sociais pretas, e um, sobretudo de complemento. Violet sempre gostou de pessoas que sabiam se vestir. Observou o homem por um tempo, depois se distraiu novamente com o resto da movimentação do bar. A banda havia parado de tocar e no playback rolava algumas músicas dançantes dos anos 80, e muitos dançavam animadamente. A maioria dos freqüentadores daquele bar tinha por volta de 35 á 50 anos. Eram poucos os adolescentes que se aventuravam, a não serem aqueles que julgavam terem nascido na época errada como Violet.
- Aceita dançar comigo?
A voz a tirou do transe de observar as pessoas, nem acreditou que a pessoa que a convidava para dançar era o bonitão que entrara a pouco no bar. Sorriu a ele:
- Obrigada, mas prefiro ficar aqui e observar.
- Então você é uma observadora do comportamento humano?
- Digamos que não... Apenas gosto de olhar as pessoas, seus gestos, como agem, o que vestem. Às vezes essas coisas dizem muito sobre a personalidade delas.
- Interessante essa sua tese, então me diga: Pela primeira aparência, como acha que sou?
- Ah, assim é difícil dizer...
- Vamos lá tente.
- Não sei...
- Vamos fazer assim? Vou me sentar aqui, pediremos uma bebida. Você me fala um pouco de mim e eu digo um pouco de você certo?
- Certo! Mas antes qual o seu nome?
- Caio e o seu?
- Violet
- Nome curioso.
Caio chamou o garçom que veio os atender, ele ao ver sua pequena deusa acompanhada agora, sentiu um pouco de raiva confessava. Mas não podia fazer nada.
- Em que posso ajudá-los?
- Traga-nos vodka, pode ser Violet?
- Claro, pode sim!
Logo as bebidas estavam na mesa e enquanto os dois bebiam Violet começou sua análise:
- Bom Caio, você me parece ser uma pessoa sutil, que gosta de envolver as pessoas e com isso usa um pouco de seu mistério, alguém culto que gosta de ler, de boas músicas, de ambientes agradáveis que te façam se sentir livre. Romântico, engraçado, espontâneo e que como eu aprecia a verdadeira solidão.
- Nossa! Você faz psicologia?
- Não, ainda não. Mas pretendo fazer!
- Realmente deve, você tem talento nessa área.
- Agora sua vez...
- Certo Violet... Me parece uma garota inteligente,observadora, com uma saciedade sem fim por conhecimento, que sabe conviver sozinha.
- Coisas muito fáceis de saber, para qualquer um que observe um pouco.
Ele sorriu. Violet estremeceu ao vê-lo sorrir, não falou tudo que achava dele. Observou mais coisas como, por exemplo, a autoconfiança que ele possuía por ser belo e com isso ter todas as mulheres que queria aos seus pés. Mas existiam coisas mais importantes que isso, e um dia ele teria que aprender a lição. Quanto maior a altura, maior a queda. Cansou de conversar com aquele belo estranho e, sobretudo dos olhares de inveja das outras mulheres ali.
A banda voltará a tocar e começara com uma música lenta Me e My Woman do André Cristovam. Caio mais uma vez convidou Violet para dançar e ela mais uma vez recusou:
- Uma pena eu não poder ter a companhia da dama mais bela dessa noite em uma dança.
- Obrigada pelo elogio cheio de exageros! Mas não caio fácil em cantadas.
- Vou dar uma volta pelo bar, espero podermos conversar ainda essa noite.
Violet apenas o olhou, sem responder. Sorriu. Sabia muito bem o que ele quis dizer com conversa, mas francamente tudo que queria era continuar a curtir sua noite. Voar livre entre as pessoas, sentir a solidão pulsar e mesmo assim poder saber que de fato não era de toda infeliz. Viu algumas pessoas dançando, e mesmo antes sem vontade, via que seu corpo lentamente se movia no ritmo da música. Deixou fluir seu desejo de dançar, levantou-se da cadeira, tirando seu sobretudo e o pondo na cadeira em que estava. Dirigiu-se até o local onde as pessoas dançavam. Fechou os olhos só assim podia sentir melhor a música e fazer movimentos harmoniosos com as notas. Nessa altura, já era outra música do Aerosmith. Lentamente dançou, esquecendo-se das pessoas que estava por perto. Nesses momentos era como se existisse apenas ela e a música. Algumas pessoas pararam para vê-la dançar, tamanha leveza. Caio um pouco afastado, encostado na mesa do bar a observava. Sabia que era uma mulher diferente das outras, que acima de qualquer coisa tinha um espírito livre, e nos tempos de hoje era raro encontrar alguém que realmente desfrutasse da verdadeira liberdade. Caio viu também estampado nos olhos do garçom uma profunda tristeza e sabia o por que.
- Por que não para um instante para vê-la dançar?
- O que?
- Sei que é isso o que deseja!
- Olha aqui, como você pode saber o que desejo?
- Só acho que você deveria aproveitar um pouco mais para fazer aquilo que quer. Às vezes damos pouca importância para nossos sentimentos e somos engolidos pela escravidão dos sentimentos.
- Olha aqui, se eu parar para olhar ela ou quem quer que seja dançar, serei demitido por não cumprir meu papel.
- Qual o seu papel?
- Aqui de garçom, tenho que trabalhar.
- Esse seu trabalho vale a pena para que não se liberte?
- O que isso tem haver?
- Quer saber, deixe para lá.
Caio pediu a ele duas garrafas de smnorff, e se afastou do garçom, sabia que existiam pessoas que nunca deixariam se libertar delas mesmas por antigos dogmas e regras, e ainda o famoso e irreal certo e errado, bem e mal. Foi até onde as pessoas dançavam e abraçou Violet, oferecendo uma das garrafas. Na hora ela se assustou, mas ao vê-lo ficou um pouco mais calma. Sorriu agradecendo a bebida. Continuaram ali por mais uns dez minutos dançando e voltaram a sentar-se à mesa.
-Sabe Violet, o que mais admirei em você?
- Não, o que seria?
- Seu jeito espontâneo, sua liberdade que tenho certeza que ninguém tira.
-Realmente aprendi o real significado se ser livre... e como diria Crowey: faça o que tu queres pois é tudo da lei.
- Pena que pouquíssimas pessoas pensam assim.
- Às vezes gostaria de realizar o desejo dessas pessoas e mostrar que a única coisa que as impedem de realizar um sonho é medo da mudança, de saber que mudarão algo na vida.
- Olha de todas eu não sei, mas você pode começar hoje mudando o de uma pessoa.
- Quem?
- Está vendo aquele garçom?
- Sim?! Mas no que eu contribuiria para o sonho dele?
- Vamos dizer que ele está apaixonado por você, mas tem medo de vir aqui dizer e perder o emprego caso você se irrite com ele e acabe se queixando para alguém, ou tem medo de se aproximar e deixar o que é obrigado ao trabalho dele fazer.
- Eu não entendo... E o que eu posso fazer para mudar?
- Vá até ele e o beije, claro se for se sentir bem fazendo isso.
- Mas ele pode perder o emprego .
- Mas pense ele não trabalha com o que gosta, além do mais está deixando de fazer coisas que gostaria preso a algo que não serve a ele. Violet a única coisa que você faria seria deixá-lo feliz e ajudar a colocá-lo de volta na sua verdadeira trilha.
Violet não respondeu Caio. Levantou mais uma vez da mesa e foi até o garçom que nesse momento servia uma mesa. Ele a viu se aproximar:
- Deseja algo senhorita?
- Sim, mas antes me diga uma coisa: qual o seu nome?
- Ianadori.
- Que nome interessante.
- Então o que você quer?
Violet se aproximou dele e o beijou. Ianadori se assustou com o inesperado beijo, mas correspondeu. Os lábios dela eram de uma maciez que deixava o beijo muito melhor do que já podia estar. Ele acabou derrubando a bandeja que segurava, sem já se importar com o que aconteceria assim que aquele momento mágico acabasse. Mas nem gostava do emprego mesmo, o que perderia? Nada, pelo contrário, tinha ganhado um beijo que ficaria para sempre gravado na sua lembrança. Um beijo doce, perfumado, que o tinha libertado. Ao fim do beijo, o gerente do bar já estava ao lado deles o olhando.
-Ianadori venha comigo agora!
Ele se foi, mas foi sorrindo. Violet pagou sua conta e saiu do Fênix, logo atrás vinha Caio que a olhou e sorriu:
- Você realmente é um anjo!
- Sou? Não estou vendo asinhas aqui...
Os dois riram e seguiram pelas ruas, sentindo a brisa da madrugada. Caio sabia que havia chego a hora:
- Vamos para minha casa!
- E por que eu iria?
- Você sabe tanto quanto eu.
Sim, ela sabia.
Conhecia muitas pessoas é verdade, mas na verdade ultimamente andava enjoada delas. Sabia que muitos mantinham apenas aparência e para não se sentirem totalmente sós em seu mundo de fantasia fingiam gostar uma das outras. Logo que Violet começou a conhecer as pessoas que freqüentavam a noite em Osasco, achou uma maravilha. Tantos estilos diferentes, punks, góticos, grunges, roqueiros, metaleiros. Mas todos pareciam ser unidos por irem ao mesmo lugar para passar a noite juntos trocando informações, havia até uma comunidade no Orkut dizendo ser o único lugar onde podiam encontrar todos os estilos e um respeitar aos outros. Aos poucos foi vendo que não era bem assim, que no fundo uns se achavam melhores que os outros, falavam mal de amigos pelas costas. E essa hipocrisia foi a cansando tanto ao ponto de não saber em quem confiar em quem eram as pessoas que realmente gostavam dela do jeito que era. Foi se afastando das pessoas até sobrarem poucas que realmente se importavam e procuraram saber o motivo do afastamento dela.
Depois de um tempo começou a andar sozinha pelas ruas de Osasco, procurava lugar onde teria apenas rostos desconhecidos para observar, assim como essa noite. Às vezes sentia-se triste, mas não importava. Era bem melhor assim do que viver e um mundo de ilusão para o resto de sua vida.
Um garçom aproximou-se para encher novamente sua taça, mas ela não queria mais vinho:
- Me traga um saquê com Kiwi, por favor!
- Como quiser senhorita!
O garçom afastou-se da mesa. Estava curioso em saber o que uma menina fazia sozinha em um lugar como aquele. Observou-a entrar e se encantou com o seu estilo, uma boina preta, que escondia um pouco de seus cabelos negros e cacheados que caiam cobrindo um rosto branco sem marcas. Olhos tão profundos na maneira de olhar, que pareciam se expressar sozinhos sem ajuda das palavras, quando queriam. Uma calça Jeans preta colada ao corpo que delineavam suas belas curvas, um corpete preto com um decote que deixava quem visse com vontade de descobrir um pouco mais. Um longo sobretudo preto, e botas de couro de finíssimo salto completavam o vestuário da garota parecendo ser uma dessas meninas francesas do século 19. Mas não podia se dar ao luxo de ficar admirando os clientes daquele local, tinha que continuar o seu trabalho. Poucos minutos depois levou à bebida a mesa dela e se afastou, mesmo com uma imensa vontade de ficar ali e conversar um pouco.
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Dentre a porta de entrada acabava de passar um homem, que muitas das mulheres ali presentes olharam, algumas discretamente outras sem ao menos se preocupar em disfarçar. Ele tinha quase 1,80, cabelos compridos e encaracolados, a pele morena, olhos de um castanho tão claro que pareciam transparentes e reluzentes. Escolheu uma das mesas do fundo do bar, perto de onde se encontrava Violet, que também ficou espantada com a beleza do homem a sua frente e com a elegância em que se vestia calça e camisa sociais pretas, e um, sobretudo de complemento. Violet sempre gostou de pessoas que sabiam se vestir. Observou o homem por um tempo, depois se distraiu novamente com o resto da movimentação do bar. A banda havia parado de tocar e no playback rolava algumas músicas dançantes dos anos 80, e muitos dançavam animadamente. A maioria dos freqüentadores daquele bar tinha por volta de 35 á 50 anos. Eram poucos os adolescentes que se aventuravam, a não serem aqueles que julgavam terem nascido na época errada como Violet.
- Aceita dançar comigo?
A voz a tirou do transe de observar as pessoas, nem acreditou que a pessoa que a convidava para dançar era o bonitão que entrara a pouco no bar. Sorriu a ele:
- Obrigada, mas prefiro ficar aqui e observar.
- Então você é uma observadora do comportamento humano?
- Digamos que não... Apenas gosto de olhar as pessoas, seus gestos, como agem, o que vestem. Às vezes essas coisas dizem muito sobre a personalidade delas.
- Interessante essa sua tese, então me diga: Pela primeira aparência, como acha que sou?
- Ah, assim é difícil dizer...
- Vamos lá tente.
- Não sei...
- Vamos fazer assim? Vou me sentar aqui, pediremos uma bebida. Você me fala um pouco de mim e eu digo um pouco de você certo?
- Certo! Mas antes qual o seu nome?
- Caio e o seu?
- Violet
- Nome curioso.
Caio chamou o garçom que veio os atender, ele ao ver sua pequena deusa acompanhada agora, sentiu um pouco de raiva confessava. Mas não podia fazer nada.
- Em que posso ajudá-los?
- Traga-nos vodka, pode ser Violet?
- Claro, pode sim!
Logo as bebidas estavam na mesa e enquanto os dois bebiam Violet começou sua análise:
- Bom Caio, você me parece ser uma pessoa sutil, que gosta de envolver as pessoas e com isso usa um pouco de seu mistério, alguém culto que gosta de ler, de boas músicas, de ambientes agradáveis que te façam se sentir livre. Romântico, engraçado, espontâneo e que como eu aprecia a verdadeira solidão.
- Nossa! Você faz psicologia?
- Não, ainda não. Mas pretendo fazer!
- Realmente deve, você tem talento nessa área.
- Agora sua vez...
- Certo Violet... Me parece uma garota inteligente,observadora, com uma saciedade sem fim por conhecimento, que sabe conviver sozinha.
- Coisas muito fáceis de saber, para qualquer um que observe um pouco.
Ele sorriu. Violet estremeceu ao vê-lo sorrir, não falou tudo que achava dele. Observou mais coisas como, por exemplo, a autoconfiança que ele possuía por ser belo e com isso ter todas as mulheres que queria aos seus pés. Mas existiam coisas mais importantes que isso, e um dia ele teria que aprender a lição. Quanto maior a altura, maior a queda. Cansou de conversar com aquele belo estranho e, sobretudo dos olhares de inveja das outras mulheres ali.
A banda voltará a tocar e começara com uma música lenta Me e My Woman do André Cristovam. Caio mais uma vez convidou Violet para dançar e ela mais uma vez recusou:
- Uma pena eu não poder ter a companhia da dama mais bela dessa noite em uma dança.
- Obrigada pelo elogio cheio de exageros! Mas não caio fácil em cantadas.
- Vou dar uma volta pelo bar, espero podermos conversar ainda essa noite.
Violet apenas o olhou, sem responder. Sorriu. Sabia muito bem o que ele quis dizer com conversa, mas francamente tudo que queria era continuar a curtir sua noite. Voar livre entre as pessoas, sentir a solidão pulsar e mesmo assim poder saber que de fato não era de toda infeliz. Viu algumas pessoas dançando, e mesmo antes sem vontade, via que seu corpo lentamente se movia no ritmo da música. Deixou fluir seu desejo de dançar, levantou-se da cadeira, tirando seu sobretudo e o pondo na cadeira em que estava. Dirigiu-se até o local onde as pessoas dançavam. Fechou os olhos só assim podia sentir melhor a música e fazer movimentos harmoniosos com as notas. Nessa altura, já era outra música do Aerosmith. Lentamente dançou, esquecendo-se das pessoas que estava por perto. Nesses momentos era como se existisse apenas ela e a música. Algumas pessoas pararam para vê-la dançar, tamanha leveza. Caio um pouco afastado, encostado na mesa do bar a observava. Sabia que era uma mulher diferente das outras, que acima de qualquer coisa tinha um espírito livre, e nos tempos de hoje era raro encontrar alguém que realmente desfrutasse da verdadeira liberdade. Caio viu também estampado nos olhos do garçom uma profunda tristeza e sabia o por que.
- Por que não para um instante para vê-la dançar?
- O que?
- Sei que é isso o que deseja!
- Olha aqui, como você pode saber o que desejo?
- Só acho que você deveria aproveitar um pouco mais para fazer aquilo que quer. Às vezes damos pouca importância para nossos sentimentos e somos engolidos pela escravidão dos sentimentos.
- Olha aqui, se eu parar para olhar ela ou quem quer que seja dançar, serei demitido por não cumprir meu papel.
- Qual o seu papel?
- Aqui de garçom, tenho que trabalhar.
- Esse seu trabalho vale a pena para que não se liberte?
- O que isso tem haver?
- Quer saber, deixe para lá.
Caio pediu a ele duas garrafas de smnorff, e se afastou do garçom, sabia que existiam pessoas que nunca deixariam se libertar delas mesmas por antigos dogmas e regras, e ainda o famoso e irreal certo e errado, bem e mal. Foi até onde as pessoas dançavam e abraçou Violet, oferecendo uma das garrafas. Na hora ela se assustou, mas ao vê-lo ficou um pouco mais calma. Sorriu agradecendo a bebida. Continuaram ali por mais uns dez minutos dançando e voltaram a sentar-se à mesa.
-Sabe Violet, o que mais admirei em você?
- Não, o que seria?
- Seu jeito espontâneo, sua liberdade que tenho certeza que ninguém tira.
-Realmente aprendi o real significado se ser livre... e como diria Crowey: faça o que tu queres pois é tudo da lei.
- Pena que pouquíssimas pessoas pensam assim.
- Às vezes gostaria de realizar o desejo dessas pessoas e mostrar que a única coisa que as impedem de realizar um sonho é medo da mudança, de saber que mudarão algo na vida.
- Olha de todas eu não sei, mas você pode começar hoje mudando o de uma pessoa.
- Quem?
- Está vendo aquele garçom?
- Sim?! Mas no que eu contribuiria para o sonho dele?
- Vamos dizer que ele está apaixonado por você, mas tem medo de vir aqui dizer e perder o emprego caso você se irrite com ele e acabe se queixando para alguém, ou tem medo de se aproximar e deixar o que é obrigado ao trabalho dele fazer.
- Eu não entendo... E o que eu posso fazer para mudar?
- Vá até ele e o beije, claro se for se sentir bem fazendo isso.
- Mas ele pode perder o emprego .
- Mas pense ele não trabalha com o que gosta, além do mais está deixando de fazer coisas que gostaria preso a algo que não serve a ele. Violet a única coisa que você faria seria deixá-lo feliz e ajudar a colocá-lo de volta na sua verdadeira trilha.
Violet não respondeu Caio. Levantou mais uma vez da mesa e foi até o garçom que nesse momento servia uma mesa. Ele a viu se aproximar:
- Deseja algo senhorita?
- Sim, mas antes me diga uma coisa: qual o seu nome?
- Ianadori.
- Que nome interessante.
- Então o que você quer?
Violet se aproximou dele e o beijou. Ianadori se assustou com o inesperado beijo, mas correspondeu. Os lábios dela eram de uma maciez que deixava o beijo muito melhor do que já podia estar. Ele acabou derrubando a bandeja que segurava, sem já se importar com o que aconteceria assim que aquele momento mágico acabasse. Mas nem gostava do emprego mesmo, o que perderia? Nada, pelo contrário, tinha ganhado um beijo que ficaria para sempre gravado na sua lembrança. Um beijo doce, perfumado, que o tinha libertado. Ao fim do beijo, o gerente do bar já estava ao lado deles o olhando.
-Ianadori venha comigo agora!
Ele se foi, mas foi sorrindo. Violet pagou sua conta e saiu do Fênix, logo atrás vinha Caio que a olhou e sorriu:
- Você realmente é um anjo!
- Sou? Não estou vendo asinhas aqui...
Os dois riram e seguiram pelas ruas, sentindo a brisa da madrugada. Caio sabia que havia chego a hora:
- Vamos para minha casa!
- E por que eu iria?
- Você sabe tanto quanto eu.
Sim, ela sabia.
3 comentários:
É... desta vez a saideira foi o garçom que pediu :-)
Boa pedida... bom conto.
Continua afiada camila,
"o casal que analisa pessoas..."
Bares não vão faltar.
bjs
dri
adorei o conto camila, bastante criativo. parabens!!!
Achei muito bom. Bem escrito, muito envolvente. Está de parabéns!!
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